Ao "eficientismo" do Eurogrupo, o governo grego de Alexis Tsipras contrapõe com ideologia.
À austeridade imposta pela Europa e o FMI, o governo grego opõe-se com salários mais altos, impostos mais baixos, mais subsídios, mais benefícios.
À visão economicista e financeira das instituições europeias, o governo grego autoproclama-se como o legítimo defensor das fragilidades sociais, dos pobres e dos explorados.
Parece-me que nem a linha europeia de dureza e intransigência para com a Grécia é desejável nem a miopia do governo grego é benéfica para o seu povo.
Deixemo-nos de ilusões: o governo grego pretende a implementação de uma sociedade marxista, com base no poder do estado e do seu líder e onde a iniciativa privada e as liberdades fundamentais existirão na medida em que não forem contra a linha ortodoxa do partido. Não é em vão que Varoufakis termina o acordo com o Eurogrupo dizendo que conseguiu que houvesse um acordo em que o compromisso de respeitar as responsabilidades para com terceiros não se irá opor à ideologia.
A luta do governo grego é ideológica, não é porque têm mais respeito pelo povo grego ou porque se preocupam mais com os problemas sociais e pelas pessoas do que os governos gregos anteriores.
É também por isto que o Eurogrupo é mais prudente nas consessões que faz, pondo em risco aquilo que são as suas obrigações morais de solidariedade para com os gregos (que também são cidadãos europeus).
Digamos que se está numa encruzilhada que em nada parece ser boa para a sociedade grega.
Aquilo de que é preciso, é ambas as partes deixarem-se de preconceitos mútuos e abertamente discutirem medida a medida do novo acordo tendo sempre presente os interesses comuns dos cidadãos expressos já nos princípios fundadores da União Europeia (liberdade, solidariedade, igualdade de oportunidades em todo o espaço europeu, respeito pelas culturas dos povos) e que serão sempre o seu sustentáculo.
A Europa precisa de líderes que saibam ler a realidade, que saibam ver os novos desafios e lhe saibam dar uma resposta que tenha em conta as mais profundas exigências dos cidadãos europeus.
Em boa parte, esta divergência de visões com que o Eurogrupo se depara agora (verdade seja dita, trazida a lume por um governo grego radical), pode até ser benéfica se a virmos como uma oportunidade para conhecermos melhor as diversas leituras que se fazem da realidade, da sociedade europeia e da economia.
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domingo, 22 de fevereiro de 2015
terça-feira, 6 de agosto de 2013
Crises
Crises há muitas.
O mais grave de tudo é que no passado mês de Julho aquilo a que se assistiu em Portugal foi ao acontecer de várias crises em simultâneo: a crise política, a crise económica, a crise das instituições e a crise de valores.
No último mês viveu-se uma verdadeira crise política que se iniciou com a demissão do ex-ministro das Finanças Victor Gaspar e que deverá estar prestes a terminar com a demissão mais que provável do Secretário de Estado do Tesouro Joaquim Pais Jorge.
Ao contrário do que a oposição tenta fazer crer a crise política não é neste momento mais grave do que era há um mês atrás quando Paulo Portas anunciou que se demitia. Para este facto contribuiu em muito, verdade seja dita, a determinação de Pedro Passos Coelho e a ousadia arriscada de Cavaco Silva em apelar ao diálogo.
Infelizmente, a crise económica continuou e não se vislumbra que venha a melhorar de forma muito significativa nos próximos meses. No entanto, é esta crise que actualmente mais faz sofrer os portugueses no seu quotidiano e, para alguns deixará marcas por longos e penosos anos.
A crise económica seria aquela que mais se agravaria num cenário de eleições antecipadas: para dar palco ao espectáculo político sacrificar-se-ia a frágil estabilidade económica que apesar de tudo se vai aguentando (estabilidade neste momento é tudo o que nos impeça de cair na bancarrota!).
A par destas crises circunstanciais está cada vez mais a ganhar visibilidade um outra crise que nos poderá trazer problemas por muitos mais anos: a crise das Instituições. Instituições, muitas delas suportadas pela Constituição e outras herdadas pela pertença à União Europeia, e que nos habituámos a acreditar nelas como o garante da democracia e das liberdades individuais.
De facto, tem-se notado uma quebra gradual na qualidade, na seriedade e na independência das instituições do nosso Estado de Direito, desde os Tribunais da Relação ao Tribunal Constitucional passando pelas Comissões Parlamentares, pelo Governo e pelo Poder Autárquico. Em suma, todas as estruturas do Estado parecem ter sido contaminadas por algo que as está a deteriorar ao ponto de parecer que a democracia está suspensa e as liberdades individuais arrumadas por agora numa prateleira.
A que se deve tudo isto?
Talvez à mais preocupante das crises: a crise dos valores.
E quando falo em valores falo nos valores da democracia e da democracia participativa, do respeito por um Estado que deve ser servidor das pessoas e não servir-se delas, de falar verdade e não mentir, de ter humildade admitindo que se errou ao invés de obstinar num orgulho imperturbável, de procurar agir com justiça e equidade, de defender a dignidade de cada um dos portugueses lutando pelo acesso a uma habitação condigna e a um trabalho justamente remunerado, de não utilizar a justiça condenatória e moralista das ideias políticas em voga, enfim, de valores que tenham em conta o bem comum e que permitam às pessoas viverem de facto em autonomia e liberdade.
Resolvida esta última crise, todas as anteriores se resolverão com o tempo.
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